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Toxo - IGM/IGG

A toxoplasmose é uma infecção causada pelo parasita Toxoplasma gondii. É uma doença que costuma passar despercebida em pessoas sadias, mas é grave em pacientes imunossuprimidos e nas grávidas.

Neste artigo vamos abordar a toxoplasmose nas gestantes e no recém-nascido, esta última chamada toxoplasmose congênita.

Para um entendimento mais amplo do assunto, sugiro antes a leitura do texto sobre toxoplasmose em pacientes sadios e imunodeprimidos: TOXOPLASMOSE | Sintomas, IgG e tratamento, onde explicamos em detalhes como é feita a transmissão do parasita e quais são os seus sintomas. Alguns dos conhecimentos fornecidos são importantes para este texto.

Antes de abordamos a toxoplasmose na gravidez, vale a pena uma revisão de como é feito o diagnóstico sorológico da doença.
Diagnóstico da toxoplasmose no pré-natal: IgM e IgG

Durante o pré-natal, o obstetra solicita algumas sorologias (exame de sangue que mostra quais são as principais infecções que a gestante já teve) para avaliar o estado imunológico da grávida. Cinco infecções são de elevada importância na gravidez devido ao risco de transmissão para o feto:

– Toxoplasmose.
– Sífilis.
– Rubéola.
– Citomegalovirose.
– Herpes Simples.

O grande risco para o feto ocorre quando uma mãe sem anticorpos para a toxoplasmose adquire a doença durante a gestação. Para saber quais são as mulheres susceptíveis à infecção durante a gravidez, solicitamos em todo pré-natal uma sorologia para toxoplasmose.

A sorologia é basicamente uma dosagem de anticorpos específicos. Uma sorologia para toxoplasmose é aquela que pesquisa anticorpos contra o Toxoplasma gondii, parasita que causa a doença. O raciocínio é o seguinte: o nosso corpo só cria anticorpos contra um determinado agente infeccioso se formos expostos ao mesmo. Portanto, ter anticorpos contra toxoplasmose significa já ter sido contaminado pelo parasita em algum momento da vida.

Para resumir um processo extremamente complexo, podemos dizer que nosso corpo trabalha basicamente com dois anticorpos, chamados IgM (imunoglobulina M) e IgG (imunoglobulina G). Assim que um germe novo entra em nosso corpo, nosso sistema imune começa a produzir o anticorpo IgM, que é chamado de anticorpo de fase aguda. O IgM é um anticorpo menos específico, mas que consegue ser produzido em poucos dias. Na toxoplasmose é possível identificar IgM circulante 5 a 7 dias após a contaminação.

Depois de mais ou menos 4 semanas, quando o nosso sistema imune já conheceu bem o agente invasor, o corpo substitui o anticorpo IgM pelo anticorpo IgG, que é mais forte e mais específico contra a toxoplasmose. Portanto, depois de 4 semanas, o paciente deixa de ter IgM positivo e passa a ter apenas IgG positivo para toxoplasmose. Esta IgG para toxoplasmose ficará positiva pelo resto da vida e impedirá que o parasita se multiplique dentro do nosso corpo.

Resumindo, um paciente com toxoplasmose aguda tem IgM positivo, enquanto que um paciente que já teve toxoplasmose e possui o parasita inativo no corpo apresentará IgG positivo. Quem nunca foi exposto ao Toxoplasma tem IgM e IgG negativos.

Como a toxoplasmose não causa doença em 90% das pessoas, o único modo de saber se o paciente já foi exposto ao Toxoplasma é através da dosagem do IgG para toxoplasmose. Para ler sobre os sintomas da toxoplasmose: SINTOMAS DA TOXOPLASMOSE.
Toxoplasmose na gravidez

É importante frisar que o problema não está naquelas mães que adquiriram toxoplasmose antes de estarem grávidas. As mulheres que já apresentavam IgG positivo para toxoplasmose antes de estarem grávidas não correm risco de transmiti-la para seus fetos. Nestes casos, o Toxoplasma encontra-se adormecido nos tecidos musculares e o sistema imune da mãe encarrega-se de mantê-lo longe do feto. A única exceção ocorre em casos de imunossupressão da mãe, como nas gestantes com AIDS, por exemplo. Nestes casos, como o sistema imunológico está fraco, o Toxoplasma adquirido anos antes pode voltar a ficar ativo e infectar o feto durante a gestação.

O risco da toxoplasmose na gravidez ocorre naquelas mães que nunca tiveram contato prévio com o parasita, possuindo sorologia negativa, isto é, IgM e IgG negativos para toxoplasmose. Estas são as gestantes sob risco, pois a toxoplasmose congênita ocorre quando mulheres adquirem o Toxoplasma durante a gravidez.

Portanto, se durante o exame pré-natal a futura mãe já tiver um IgG positivo para toxoplasmose, ela pode ficar tranquila, pois não corre risco de passar a doença para o feto. Se, entretanto, ficar constatado que a mãe é IgG negativo, alguns cuidados devem ser tomados para minimizar o risco de contaminação durante a gestação:

– Evitar consumir carnes mal passadas, principalmente de porco.
– Lavar bem as frutas e vegetais antes de comê-los.
– Lavar bem facas e pratos que tiveram contato com carne crua.
– Congelar a carne por uma semana antes de consumi-la ajuda a matar os parasitas.
– Não consuma carne de procedência não confiável.
– Evite beber água não engarrafada.
– Não pratique jardinagem.
– Evitar contato prolongado com gatos.
Grávidas e gatos

Os gatos são os únicos animais que, se contaminados com o Toxoplasma, passam a eliminá-los na fezes, servindo como fonte para contaminação do meio e de pessoas. Nos outros animais, o parasita fica alojado e adormecido nos músculos, motivo pelo qual a ingestão de carnes cruas é atualmente o principal fator de risco para contaminação pela toxoplasmose.

Portanto, grávidas susceptíveis à toxoplasmose (IgG negativo) devem evitar carnes cruas e contato próximo com gatos.

Mas eu sou uma gestante com IgG negativo e tenho um gato de estimação. Preciso me livrar dele?

Não, não precisa. Mas alguns cuidados devem ser tomados:

– Leve-o ao veterinário para saber seu estado imunológico.
– Peça alguém para limpar diariamente a caixinha de areia com fezes do gato. Tente não entrar em contato com as fezes do felino.
– Alimente-o apenas com rações; nunca deixe-o comer carne crua.
– Evite deixar o gato sair de casa, para que ele não corra o risco de contrair o parasita.
– Evite insetos em casa, principalmente moscas e baratas, que podem carrear o parasita e serem comidos pelo animal.

Se o seu gato é bem cuidado, alimenta-se corretamente e não costuma andar livremente pela rua, a chance dele ter toxoplasmose é muito pequena.

Quando as grávidas tomam os devidos cuidados, a taxa de contaminação é baixa. Atualmente, menos de 8 em cada 1000 (isto é, 0,8%) gestantes com sorologia negativa para toxoplasmose acabam por se infectar durante a gravidez

Assim como em qualquer outro paciente com sistema imunológico intacto, a toxoplasmose na gravidez não costuma provocar sintomas. Nos raros casos onde há sintomas, os mesmos costumam ser leves e inespecíficos, como febre baixa, cansaço e dor muscular. Portanto, nas mulheres com IgG negativo, a sorologia deve ser repetida seriadamente durante toda a gravidez para que tenhamos certeza que não surgiu um IgM positivo indicativo de infecção recente. Não dá para confiar somente nos sintomas para dizer se alguém foi ou não infectado pelo Toxoplasma recentemente.
Toxoplasmose congênita

Como já explicado exaustivamente, a toxoplasmose congênita ocorre quando mães com sorologia negativa para toxoplasmose (IgG negativo) entram em contato com o parasita durante a gravidez.

Mulheres que pretendem engravidar, mas que acabaram de se contaminar com a toxoplasmose devem respeitar um intervalo mínimo de 6 meses entre a cura e a gravidez para não haver risco de transmissão do parasita para o feto.

Quanto maior for a idade gestacional no momento da infecção, maior será o risco de transmissão do parasita para o feto. Toxoplasmose adquirida na 13ª semana, 26ªsemana ou na 36ª semana apresentam, respectivamente, um risco de 15%, 44% e 71%  de transmissão para o feto.
Sintomas da toxoplasmose congênita

A maioria dos recém-nascidos com toxoplasmoses são assintomáticos imediatamente ao nascer. Menos de 30% já nascem com sintomas da toxoplasmose congênita, como coriorretinite, calcificações intracranianas, hidrocefalia (acúmulo de líquido cefalorraquidiano no interior do crânio), lesões dermatológicas e linfadenopatia generalizada (linfonodos aumentados por todo o corpo).

Toxoplasmose congênita - Hidrocefalia

Hidrocefalia – Toxoplasmose congênita

Clique para ampliar (atenção: a foto acima pode ser considerada chocante para algumas pessoas).

Aqueles que nascem sem sintomas, porém, se não diagnosticados e devidamente tratados, apresentam elevado risco de desenvolver posteriormente sintomas da toxoplasmose congênita. Além de lesões oculares graves, estas crianças podem apresentar surdez, atraso do desenvolvimento mental e epilepsia. Casos mais graves podem evoluir para o óbito.

A ultrassonografia fetal é capaz de detectar aqueles 30% de casos de mal formações do feto causadas pela toxoplasmose ainda dentro do útero. Nos países que permitem aborto, a interrupção da gravidez pode ser indicada, pois estes bebês já apresentam graves sequelas neurológicas e elevada mortalidade nos primeiros dias de vida.
Como prevenir a toxoplasmose congênita?

Mães que desenvolvam toxoplasmose durante a gravidez, independente da idade gestacional, devem ser tratadas até o fim da gestação com um coquetel de antibióticos composto por Pirimetamina, Sulfadiazina e Espiramicina.

Se a despeito do tratamento, a criança nascer com toxoplasmose, sintomática ou não, esta também deve ser tratada. O esquema indicado é Pirimetamina + Sulfadiazina. O tratamento dura 12 meses.